Por que o bem-estar animal é crucial para a sustentabilidade?

Contribuição: Prof. Celso Lemme

Professor do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (COPPEAD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Celso Funcia Lemme (70 anos) é especialista em finanças e sustentabilidade corporativa. Nascido no Rio de Janeiro e graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, ele colecionou, ao longo de sua carreira, uma série de serviços prestados como palestrante e consultor a empresas e instituições nas áreas de energia, construção civil, alimentação, papel e celulose, dentre outras. Também conduziu inúmeros projetos de pesquisa nas áreas de sustentabilidade corporativa, finanças sustentáveis e avaliação de empresas, além de ter sido presidente e membro de conselhos técnico-consultivos de organizações internacionais e nacionais nessas áreas.

Em entrevista concedida ao repórter de DBO, Renato Villela, Lemme falou sobre a percepção dos consumidores quanto à cadeia produtiva da carne bovina, mostrando que eles estão cada vez mais preocupados em saber como esse alimento é produzido. Da mesma forma, discorreu sobre os avanços – e desafios – do bem-estar animal no mundo corporativo, destacando o olhar das empresas e dos investidores sobre o tema, que se tornou um dos alicerces da produção pecuária nacional. Leia a entrevista!

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Renato Villela: Na sua opinião, trata-se de um compromisso real ou é apenas marketing?

Celso Lemme: Tem de tudo. Há empresas brasileiras que estão em nível de liderança internacional nas questões socioambientais, mas tem também muita coisa de fachada. Uma pesquisa da consultoria PwC, por exemplo, feita ano passado, mostrou que 98% dos investidores, que avaliam as empresas em detalhe vêem problemas de greenwashing (termo em inglês para designar estratégias, discursos e ações de cunho sustentável, mas que não se verificam na prática), em relatórios de sustentabilidade das empresas. Atualmente temos, no Brasil, cerca de 400 companhias na Bolsa de Valores e 20 milhões de micro a médias empresas, muitas delas participando da cadeia de valor das grandes. Ter lideranças bem posicionadas, como temos na área de alimentação, vestuário e cosméticos, por exemplo, pode induzir transformações em toda a cadeia.

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Renato Villela: O senhor fez um estudo exploratório para mapear riscos e oportunidades potenciais do bem-estar animal para a indústria de alimentos. Poderia falar, primeiro, sobre os riscos? Quais são eles? Poderia citar exemplos na pecuária de corte?

Celso Lemme: Existe um risco enorme no que diz respeito à percepção do consumidor sobre o produto. No caso da pecuária de corte, a transparência tem de ser associada com a materialidade. O setor precisa mostrar claramente como funciona. A primeira mensagem que precisa passar é: não estou associado ao desmatamento ilegal. Segundo, tenho cuidado com o bem-estar no transporte e faço a insensibilização correta no abate.

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Renato Villela: Como a questão do bem-estar animal tem sido vista pelo setor financeiro? Já faz parte dos critérios para avaliação de investimentos para o setor de carne?

Celso Lemme: Se você olhar nos últimos anos, verá que o indicador de bem-estar animal já faz parte dos relatórios de sustentabilidade da GRI (Global Reporting Initiative), que é o padrão internacional mais difundido de relatórios de sustentabilidade no mundo, particularmente para quem faz negócios com o mercado europeu. Tem também o relatório BBFAW (Business Benchmark on Farm Animal Welfare), um benchmarking empresarial com foco em bem-estar animal que não existia 15 anos atrás e hoje é imprescindível para a indústria de alimentos. A Bolsa de Valores, desde 2018, inclui o bem-estar nos critérios de seleção do índice de sustentabilidade empresarial (ISE) para empresas que lidam com produtos de origem animal. O que isto significa? Que a preocupação com o bem-estar está se disseminando de uma forma tal que é de se esperar que ele ganhe cada vez mais espaço. Não olhar para ele pode representar um risco muito grande para as empresas brasileiras.

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