
A partir desta segunda-feira (18/10), chefes de Estado das maiores economias do mundo estarão reunidos no Rio de Janeiro para a cúpula do G20.
Esta é a primeira vez que o evento é realizado no Brasil, que está na presidência temporária do grupo desde o fim de 2023.
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1 – As pautas defendidas pelo Brasil vão vingar?
Neste um ano de presidência no G20, o Brasil apostou em temas com maior potencial de convergência entre os países, como o combate à fome e a desigualdade — deixando de lado pontos sensíveis aos diversos integrantes, como os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.
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Em julho, os ministros de finanças do G20 aprovaram um documento defendendo a adoção de políticas de tributação progressiva, inclusive sobre os chamados “ultrarricos”.
Mas, segundo fontes, o presidente argentino, Javier Milei, tentou fazer mudanças nesse texto, que apontava para importância de discutir essa taxação.
“Possivelmente, ele não vai referendar essa proposta brasileira em particular para viabilizar o financiamento”, prevê a cientista política e especialista em relações internacionais Ariane Roder, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ainda assim, o governo brasileiro ainda considera uma vitória ter conseguido o apoio da quase totalidade do G20 à inclusão do tema no documento.
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2 – Milei e a Argentina como pedras no sapato?
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A expectativa é de que Milei seja um porta-voz do movimento da extrema-direita global e trará encaminhamentos que são consensuais entre ele e Trump, avalia Ariane Roder, da UFRJ.
“Há a possibilidade de discursos antimultilateralismo (ser contra o princípio de cooperação entre vários países para alcançar objetivos comuns), de cunho negacionista climático e evitando comprometimentos mais assertivos sobre a transição enérgica”, prevê.
“Pode haver uma pressão para que Milei não se isole em relação às temáticas, já que Trump ainda não está na reunião, mas certamente ele não vai levar a cabo nenhum comprometimento”, completa Roder.
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3 – O ato final do governo Biden
O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chega ao Brasil num momento em que está enfraquecido após as eleições americanas.
Biden será presidente da maior economia mundial até janeiro de 2025, quando entregará a chave da Casa Branca a Trump, que teve uma vitória contundente na disputa contra a vice-presidente, Kamala Harris.
Na avaliação da pesquisadora Ariane Roder, da UFRJ, o atual governo americano deve usar a cúpula do G20 para marcar suas posições em contraposição ao próximo governo Trump.
“Nada que Biden falar no Rio significará tomada de decisão nos Estados Unidos, mas ele falará para os democratas, marcando uma posição de que não existe consenso nos EUA em questões polêmicas”, diz Roder.
“O G20 terá peso simbólico para a política interna dos EUA, mas a comunidade internacional já sabe muito bem o posicionamento de Trump”, completa.
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4 – China ocupando espaços
Com Trump de volta à Casa Branca, a expectativa é de que os Estados Unidos se tornem mais uma vez um “adversário” do chamado multilateralismo — ou seja, da ideia de que a governança global e a solução de assuntos internacionais decorram do funcionamento de fóruns como o G20 e órgãos como a ONU.
É nesse “vazio” que os EUA vão deixar nesses encontros que a China pode assumir um papel de mais protagonismo.
“Hoje, a gente não fala mais de um mundo hegemônico, a gente fala em vários polos de poder, sendo a China o principal representante disso”, avalia a pesquisadora Ariane Roder.
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Ponto extra: violência no Brasil
A cúpula do G20 ocorre num momento em que o Brasil tem sido manchete em jornais pelo mundo por casos de violência.
Primeiro, a morte de um delator e ex-membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) em pleno Aeroporto de Guarulhos (SP), o maior terminal de passageiros e principal porta de entrada do Brasil.
Segundo, as explosões de bombas nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, cometidas por um homem que morreu no local.
Mas os casos não têm levantado maiores preocupações sobre a segurança do evento no Rio, segundo fontes consultadas pela BBC.
“Claro que, num mundo de tensão como é hoje, os riscos adicionais são incrementados. Mas o Brasil historicamente se coloca como um lugar amistoso, onde esses encontros podem acontecer”, diz Ariane Roder, da UFRJ.
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